O começo
A batalha
Chamo
de batalha pois assim que nos sentíamos, no meio de uma guerra, onde cada
batalha vencida era uma vitória. Com três anos as crises continuavam e a busca
por remédios que se adequassem ao organismo dele era incessante, ainda haviam
os problemas de encontrar os remédios nas farmácias. Por uma loucura, em um
determinado mês resolvemos não procurar os remédios e eu resolvi me voltar
totalmente para minhas orações, momento de desespero, de loucura,
irresponsabilidade, chamem como quiser, foi um momento difícil. Não aguentava
mais ver meu filho ou sedado ou caído com convulsões. O resultado foi uma
diminuição das crises e o aparecimento de ausências ou convulsões mais brandas.
Não quero induzir ninguém a não dar os remédios aos seus filhos, estou
relatando minha experiência. A neuro nos explicava que as ausências eram como
curtos circuitos no cérebro de Lucas, por isso, ele não memorizava o que
aprendia. Aprendia hoje, amanhã já não sabia mais. Após um ano sem tomar os
remédios, as ausências desapareceram, milagre, eu acredito intensamente nisso.
Com 4 anos resolvemos levar Lucas para escola, municipal, pois, haveria mais
acompanhamento devido a Lei de inclusão. Neste período, os novos exames, feitos
na Rede Sarah de hospitais de reabilitação, diagnosticaram o atraso global de
desenvolvimento. O que é isso? O que temos que fazer agora? Nosso filho não vai
aprender? Onde buscar ajuda? E as dúvidas começam a pairar sobre nossas
cabeças, o temor, a falta de conhecimento sobre o assunto, a estrutura precária
da escola, o fato é: as escolas não estão preparadas para receber as crianças
com atrasos, muito se tem a fazer, as dificuldades financeiras, tudo se
embolando em um grande turbilhão de pensamentos e muito mais orações e pedidos
de direção.
As pequenas
grandes vitórias
Nos
indicaram, além de tratá-lo como uma criança normal, dando amor, carinho e,
também, disciplina, a encontrarmos os serviços de fonoaudiologia, terapias, que
o ajudassem e nos ajudassem. Lá fomos nós, buscar ajuda na rede pública, pois,
esses tratamentos são caros e raramente, atendem planos de saúde. As agitações
de Lucas tornavam difícil encontrarmos quem ficasse com ele para trabalharmos.
Resultado, meu marido continuou trabalhando e eu deixei o trabalho para cuidar
do Lucas. E fomos percebendo que ele ficava mais tranquilo e se desenvolvia
melhor comigo por perto. Foi uma boa escolha apesar de difícil financeiramente,
afinal, somos um casal classe média. Mais nada era mais prazeroso do que ver
pequenas coisas acontecendo, que, talvez, por tudo ter sido tão normal com meu
primeiro filho eu não tenha notado. Ver o Lucas aprendendo a comer sozinho era
uma grande vitória, vê-lo aprendendo a falar outra. Mais uma vez a ação de Deus
em nossas vidas, comecei a frequentar uma igreja na época em que ele ainda não
falava e pedi ao Pastor que me ajudasse com suas orações, e assim ele fez, mais
uma vez, vimos Deus trabalhar na vida de nosso filho. O desenvolvimento
colegial continuava muito fraco, a coordenação motora não era boa, mas,
estávamos ali, dispostos a buscar ajuda onde fosse necessário. E as informações
vinham de internet, de pessoas conhecidas que conheciam alguém com o mesmo
problema, e o mundo deixa de ser pequeno, egoísta e se abre um grande leque de
oportunidades, de desejo de ajudar ao próximo e sentir que Lucas é tão normal
como qualquer outra criança, que nós, os pais, é que vivemos em um mundo onde
não percebemos o outro. Com o passar do tempo e ele mais tranquilo, sem
ausências, um pouco mais independente, voltei a trabalhar. Sentimento de culpa,
pensamentos embaralhados, mais, era preciso, até mesmo para ajudar no
desenvolvimento dele, que precisava saber que o mundo ia além de mim. Na escola
pública, mesmo com toda boa vontade das auxiliares e professoras, não víamos
muito progresso, eram muitas crianças e ele necessitava de atenção especial. Trocamos
Lucas de escola, buscamos mais informações sobre o que o plano de saúde
cobriria, e seguimos buscando mais para que ele tenha o desenvolvimento que é
capaz, que se relacione com outros de igual para igual e temos certeza de que
isso é possível. Vejam como a criança nos ajuda, como é uma troca, nos o
ajudamos a se descobrir e ele nos ensinou que era preciso olhar para fora de
nossos mundinhos.
Quando decidimos trocá-lo de escola
precisamos nos concentrar na busca, deveria ser uma escola realmente
interessada na inclusão social e não apenas em fazer matrícula para ter mais
dinheiro no caixa. Após algumas conversas, informações, chegamos a escola em que ele se encontra hoje.
Nesta escola com menos crianças na sala e um acompanhamento os desenvolvimentos
motores foram visíveis a curto prazo, o que ele precisava era mais incentivo e
orientação correta. Fomos apresentados por essa nova escola a um grupo,
Metamorfose, onde ele começará a fazer um acompanhamento com terapias
ocupacionais e fonoaudilogia e não preciso dizer que o sentimento é de
euforia, esperança, alegria, medo do novo e um desejo enorme de que mais
pessoas saibam que é possível com muita ajuda, fé, força, amor, muito amor, ver
nossos pequenos, diagnosticados com “atraso global do neurodesenvolvimento” nos
mostrarem como nós é que temos atrasos de conhecimento, de amor ao próximo, de
união. Agradeço todos os dias por Deus ter me concedido a dádiva de ser mãe de
uma criança tão maravilhosa, amável e sensível.
Continuarei essa história e vocês
conhecerão os próximos passos do meu herói. Nos acompanhem nesta incrível
jornada.
A ajuda
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